24 novembro 2005

A propósito do Karl



A Inês trouxe à memória colectiva o Karl Lang.
Julgo que todos sabem, mas de uma forma resumida o Karl Lang foi um dos meninos autríacos que no final da guerra e por dificuldades no seu país de origem vieram para Portugal, e foi recebido e instalado na Sertã em casa da Tia Maria José.
Muitos ficaram, muitos regressaram.
O Gustav Zenkl, por exemplo, que julgo ter sido recebido na Quinta do D. Infante da Câmara, foi até cavaleiro tauromáquico e viveu quase toda a sua vida em Portugal.
Adiante ao que interessa.


O Zé Eduardo que brincou com o Karl na Sertã, nas férias ou quando ia visitar a Tia conseguiu restabelecer contacto com ele já em muito adulto.
Esteve com ele em Viena e no ano seguinte, depois de cartas trocadas com a Tia Maria José (a sua mãe portuguesa) veio a Portugal com a família.
Um dia estavamos nós cá de casa em Almada e o Avô convida-nos para vos representar num jantar com o Karl e família e os Telivetes.
Lembrei-me então de tentar arranjar fotocópias de documentos sobre a passagem do Karl por Portugal. Depois de uma conversa com uma senhora da Caritas chegaram-me à mão duas fotocópias do processo do Karl Lang.
Quando a família Lang chegou e depois das apresentações, com um cumprimento formal e "teutónico", quase de vénia de cabeça e batidas de tacões, eu disse à Sylvia (filha), que tinha ali naquele envelope uma pequena prenda para o pai.

A mulher do Karl olhava para mim com um olhar inquisitorial enquanto a filha dizia ao pai qualquer coisa do tipo volkswagen e telefunken, e o Karl olhava para mim também com curiosidade.

Abriu o envelope e deu para ver o olhar dele a descer no documento de cima abaixo e ao chegar ao fim e olhando para a assinatura disse:
Mamma, mamma!!!

Passou as folhas à mulher e foi a primeira vez, e a única até agora, que um austríaco me abraçou, levantou ao ar e me encheu as bochexas de beijos.

5 comentários:

cbarata disse...

Bela história sr.cunhado!! Tu tens bué coelhos na cartola.

Tio Mário disse...

Obrigado cunhado, mas nem por isso.
Por vezes há ideias que com algum trabalho e imaginação e apoio de terceiros nos permitem fazer alguma coisa de jeito.
É só isso.
Quando as ideias surgem, uma de duas, ou se desenvolvem e testam ou se matam à nascença.
A sorte aí também é importante.
E sobre o Karl poderá o Zé Eduardo e quem sabe o Zé Gil poder contar outras estórias, essas então dessa altura.

joana disse...

lembro-me perfeitamente do karl. de eles ficarem lá em casa. A mulher dele chama-se Krista, e tinham (inês e rodrigo ajudem-me) 2 filhas? a minha memória de mais nova não chega a tanto.
Todos os anos lá nos chegava o postal de natal, a lembrar o karl e a família. agora a suécia e portugal parecem-me tão perto, e na altura a áustria, que fica quase a meio caminho, parecia tão longe!

Tio Mário disse...

Só conheci uma filha e como digo no post chama-se Sylvia ou Silvia.
Pelo menos em casa dos avós só estve uma menina talvez com uns 13 anos na altura. Se assim fôr terá agora uns 35. Beijos e abraços pra Malmö.

Rita disse...

Hum... Karl só mesmo um aluno meu da piscina... não me lembro de mais nenhum...
Raios, que vocês são mesmo antigos!