Não querendo ferir susceptibilidades ( isto já deve ser erro com o novo acordo ortográfico), resolvi hoje também escrever-te.
Tens consciência de que já passaram 24 anos? Eu não, continua a parecer-me que foi ontem.
Esta "cena" do acordo ortográfico que acaba de ser promulgada pelo manequim da Rua dos Fanqueiros, Cavaco Silva, desculpa a falta de respeito pelo Sr. Presidente, a que não ias achar graça nenhuma, (nem à falta de respeito, nem se calhar ao Presidente), é uma palhaçada.
Eu cá que cometo poucos erros de ortografia vou passar a fazer muitos e a borrifar-me completamente nisso. Quero lá saber! ainda me lembro da mãe escrever assucar em vez de açucar e pharmacia em vez de farmácia, por exemplo, e dizer precisamente o mesmo.
Acho que se resolvesses voltar, irias ficar completamente em choque, com a mudança que tudo teve, desde então.
Tu, que eras um homem culto, sentir-te-ias perdido no meio da linguagem actual, numa época em que deixaram de dar valor a todos os valores que aprendeste e ensinaste-nos como sendo os melhores, em que se é importante pela quantidade de dinheiro que se tem, pelos bens materiais que se acumularam e se exibem aos outros, pagos a pronto ou a crédito, muito dele incobrável.
Tu, que és de um tempo em que se comprava unicamente aquilo que fazia falta, com dinheiro à vista e que se só se susbtituía depois de esgotada toda a sua utilidade e excluídas todas as hipóteses de transformação em algo novamente útil.
Tu que és de um tempo, em que o conceito de felicidade não pertence aos dias de hoje, comprovando que não se é mais feliz por se ter muito, sobretudo quando se sacrifica tudo e todos para o obter.
Irias ficar horrorizado com a corrupção e violência, generalizadas, que acabamos por achar "normal", dada a frequência com que estalam escândalos e guerras por todo o lado, e também com as catástrofes climáticas com consequências cada vez mais graves e frequentes.
Irias ficar chocado com as aberturas de todos os telejornais nacionais, dando o maior realce a tudo o que não presta , mas que vende bem. Hoje temos acesso a canais de notícias de muitos países, onde a situação não é melhor.
Em contrapartida, acho que irias gostar de participar neste blogue e contribuírias decisivamente para algum "aquecimento blogal".
Irias gostar da evolução tecnológica, do progresso da medicina e de muitas outras coisas boas que vieram agarradas às más ou vice-versa.
Irias gostar de ver a tua família. cada vez maior, unida e solidária, como sempre.
Feito o balanço geral, não consigo dizer se somos mais felizes agora, com tudo a que podemos aceder e de que teríamos muita dificuldade em abdicar, achando mesmo que seria insuportável não ter Telemóvel, GPS, Tvcabo, Mp3, Mp4, Internet, Ipod, playstation, gameboy, Lcd, Plasma, câmara digital, etc., etc...
Nada disto te diz algum coisa, pois não? Pois é, em pouco tempo, criaram-nos dependência de tudo isto, sem nos apercebermos. Rídiculo, não é? A semana passada com o lançamento de um novo telemóvel o "Iphone", que custa uma pipa de massa, dezenas de pessoas fizeram bicha (agora diz-se fila, deve ser por causa do acordo) só para o poderem segurar (e pontuar junto dos amigos) , porque dinheiro não há, estamos todos ( ou quase), falidos.
Ainda bem que tivémos a sorte de ter uns pais que nos deram uma educação e um exemplo que nos permite ver a outra face da vida. Obrigada!
Bem, já vai longa esta carta, espero não estar a maçar-te demasiado.
Vou dando notícias.
Até um dia, Meu Querido Pai!
a 5ª, "a benjamina", Lena