18 fevereiro 2006

Pedagogia do gosto

É raro ouvir alguém dizer que não gosta de ler. É socialmente intolerável demonstrar tal "deficiência" e as pessoas dizem que não têm tempo ou dão qualquer outra explicação. Acho bem! Assim contribuem, pedagogicamente, para deixar aos mais novos a ideia de que a leitura é uma coisa da qual não fica bem dizer mal.
E a matemática? Aí já não é bem assim. Os miúdos, às voltas com a escola, já ouviram em toda a parte, na família ou na televisão, do pai ou de um governante qualquer, desabafos exorcistas contra a matemática. Por vezes até se lhes pressente um certo orgulho nas declarações de "nunca percebi nada disso". Os putos ouvem, imitam e ganham autoridade para detestar.
Quanto à música, ninguém diz que não gosta de música. Pode não se gostar de muita música, ter um gosto normalizado ou minoritário mas, e acho mesmo que é verdade, toda a gente gosta de alguma música.
O que eu não compreendo mesmo é porque é que todos aqueles que andavam na escola e foram postos na última fila do canto coral, todos a quem o professor disse que eles eram os mais desafinados alunos de que tinham memória, todos os que foram aconselhados a não cantar para não estragarem aquilo tudo, todos esses, me vêm, em catadupas, dizer-me isso. Não dá para acreditar. Basta saberem que eu sou professor de música para virem, todos contentes e vangloriosos, espetar-me com as suas deficiências musicais. Garanto-vos que não dá para acreditar!!
Ando agora a fazer um curso que pretende juntar valências de música e de português. Só queria que vissem os de português cheios de medo: "Eu? Música?". Era o que faltava se eu, que não fui nenhum Aquilino quando andei na escola (ou será à escola?), dissesse que tinha medo de praticar português. Ora bolas!!
Vamos mas é respeitar as nossas fraquezas e lamentar a falta de sorte com alguns caminhos que fizemos. Todo o conhecimento científico ou artístico tem o seu valor e a miudagem tem que ter exemplos de respeito por isso.
E já agora, não digam nada a ninguém mas eu não gosto nada de "ballet". É pena!

3 comentários:

joana disse...

bem, acho muito bem o karaoke, eu adoro cantar e acho que todas as oportunidades são boas.

Inês, ainda precisamos de nos inscrever num coro qualquer e ir para lá cantar os nossos "Aleluias" e "Gloria in Excelsis Deo" a altos berros :-). Eu conto: quando erámos pequenas, a Inês e eu partilhávamos o mesmo quarto. Eu andava na escola primária de "santa teresinha e do menino jesus" e aprendia imensas de musicas sacras. Depois chegava a casa e ensinava as músicas à Inês. Mas os momentos altos eram quando o Pai e a Mãe iam jantar fora, e nós ficávamos os três em casa sozinhos. Lá íamos para a cama à hora do costume, mas o nosso quarto transformava-se numa sala de concerto, basílica, eu sei lá o quê :-)). Cantávamos os aleluais, fazíamos canons. Aquilo era uma festa musical. Coitado do Rodrigo no quarto ao lado a tentar dormir.. paz de alma como é, não me lembro de alguma vez se ter queixado :-).
A melhor de todas foi quando o Pai e a Mãe um dia chegaram mais cedo a casa. De repente abre-se a porta do nosso quarto (se calhar nós nem ouvimos, tal era a cantoria) e ouve-se uma voz grossa: "MAS O QUE É QUE É ISTO?" lolololo, de repente não se ouvia um mosquito no quarto... ficámos anos a rir disto. Ainda agora a escrever isto estou a rir à gargalhada. Não conseguimos imaginar a cara do Pai e da Mãe a subir as escadas de casa e a pensar de onde viria aquela gritaria toda :-)
PC(post comment) - isto devia ter sido um post,.. mas agora já está aqui :-)

Tio Mário disse...

Nunca é tarde para postar sobre esses acontecimentos.
Só não fiquei a saber de quem era a voz grossa, se do pai se da mãe, mas que me ri à gargalhada isso ri.
Tivemos então um momento de PEDAGOGIA do (des)GOSTO.

Tio Mário disse...
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